A ocupação da Taboadella remonta ao século I. O lugar herda uma Villae romana, com um enquadramento único junto à Ribeira das Fontainhas na época uma propriedade da classe rural alta, constituída por casa, adega, celeiro e outras pequenas construções. Esta comunidade agrícola era um dos pilares de sustentação do império romano, cuja estratégia de ocupação incluía a plantação da vinha nas terras conquistadas do interior como forma de de marcação territorial e cultural, e fonte de rendimento, já que o vinho era parte do salário militar das legiões e um importante fator de exportação. Na época medieval, as referências históricas da Taboadella remontam a 1255, com as casas da propriedade aconchegadas numa floresta mista de pinho, carvalho e castanheiro, rodeadas por um jardim secular que se estende às parcelas de vinha. Um lugar repleto de vida e carácter, que ainda hoje nos faz sentir o “modus vivendi” de então.
Esta é a identidade da Taboadella, na vinha como na vida
Com condições edafoclimáticas de exceção entre o Vale do Pereiro e o Vale do Sequeiro, o coração da Taboadella encontra-se nas castas antigas e nas videiras-mãe: Jaen, Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Pinheira que toda a vida deram origem a novas estacas contribuindo para o encepamento original, provenientes de videiras muito resistentes e perfeitamente adaptadas ao lugar. Aqui, onde o passado e o futuro se completam, os vinhos nascem na vinha e na paisagem, com o cuidado particular e paciente que nos permite resgatar do passado a essência da natureza e projetar para o futuro grandes vinhos com uma tipicidade notável mantendo o caráter ancestral do Dão. Esta é a identidade da Taboadella, na vinha como na vida!
A Taboadella situa-se na Silvã de Cima — atual concelho de Sátão, distrito de Viseu — que em tempos era uma pequena freguesia incluída na terra de Golfar, que foi doada a fidalgos cavaleiros e que mais tarde passou a pertencer à Ordem de Cristo e elevada a concelho, tendo recebido foral do rei D. Manuel, a 20 de Agosto de 1504. A propriedade parece ter sido muito apetecida por diversas famílias fidalgas ao longo do tempo, como comprova a pedra de armas do séc XIX da família Azeredo e Albuquerque.
Mas a antiguidade do nome de Taboadella recua muitíssimo mais no tempo, havendo registos do século XVII e XVIII, uma menção no Cadastro da População do Reino mandado fazer por D. João III, em 1527, e uma referência na Leitura Nova de D. Manuel I, nas Inquirições de D. Afonso III, de 1258. Existem neste lugar muitos outros vestígios, incluindo uma inscrição funerária que comprova a ocupação da Taboadella já no século I.
Associada à cultura da vinha no Dão e a uma multiplicidade de produtos da atividade agro-florestal foi garantindo ao longo das épocas valor ecológico na preservação da biodiversidade, integrando a comunidade rural e urbana com padrões de consumo e sistemas de produção sustentáveis. A localização e dimensão da propriedade, encaixada num vale aberto confere-lhe relevância acrescida na definição do modelo de ordenamento e ecologia da paisagem local, marcado por manchas de olival, mato e floresta de pinheiro bravo, sobreiro e outras fagáceas. As condições biofísicas desde verdadeiro mosaico ecológico, fortemente marcado pelas formações graníticas originárias dos solos, integra nas zonas de menor aptidão agrícola uma envolvente arborizada com pinheiro manso, sobreiro, carvalhos, cedros, tílias e eucaliptos, num sistema ajardinado de árvores adultas e matos mediterrâneos em sub-coberto, ao qual se associa uma charca em terra batida visitada por uma comunidade de patos reais nidificantes. Nos jardins da casa destaca-se um secular medronheiro de porte arbóreo e diâmetro raramente visto, uma relíquia com características raras e majestosas.
O mosaico de ocupação diversificada do solo resulta numa enorme biodiversidade. Inúmeros habitats albergam numerosas espécies da fauna selvagem bastante interessante, associadas a ecossistemas florestais ou de massa de água interior. A fauna é variada e numerosa: na floresta proliferam aves como o chapim, tordos e pombos e aves de rapina como a águia da asa redonda e as fantásticas garças; entre os arbustos refugiam-se mamíferos como a escava terra mais conhecida por toupeira, o esquilo, a perdiz e o coelho; diversos répteis e anfíbios como a sardanisca-argelina, o sapo comum e o sapo parteiro aparecem com o bom tempo; o crepúsculo revela sons e movimentos de corujas-do-mato, mochos, bufos, morcegos, javalis e raposas que habitam a noite. Nos jardins da casa e no pequeno lago somos recebidos por um casal de garças e por uma comunidade de patos reais nidificantes.